Ponto de vista Foto:FlaGlvn |
Ontem aconteceu um fato curioso. Uma amiga com quem eu não conversava desde Dezembro me ligou: "Oi, eu sei que sumi, admito (mea culpa), mas aconteceram algumas coisas e aqui estou eu". Continuamos a conversa por whatsup porque o sinal do celular estava ruim. Contente por nos falarmos outra vez ela contou de sua saída do emprego, como estava feliz por poder andar pela cidade e notar coisas que não havia notado quando estava sempre na correria, como perdeu peso depois que parou de trabalhar, etc. Fiquei realmente feliz por ela, porque sei como ela estava se sentindo, já estive no mesmo lugar, vivi a mesma situação. Enfim, ela me pergunta: "E você, como vai? Como anda a vida? O que tem feito?".
É curioso como nos sentimos importantes quando as pessoas nos perguntam questões simples como essa: "Como está você". Quer dizer que se importam com você, que sua pessoa tem algum valor para elas. Ou não. Pode ser uma mera formalidade, uma conveniência. E ao nos darmos conta de que não estão realmente interessados em saber como temos passado, nos sentimos enganados e traídos por nossas expectativas com o outro. Eu que vivi diversas vezes essa situação deveria imaginar que desta vez não seria diferente. Minha "amiga" em questão estava feliz com seu momento presente e só queria compartilhar isso com alguém. E como sou a pessoa mais próxima dela em termos de "amizade para confidências" nos últimos anos, não deveria me surpreender em ser procurada, ainda que nos encontremos apenas umas duas ou três vezes no ano inteiro. No final das contas, sempre que nos vemos pessoalmente é como se tivéssemos conversado ainda ontem.
Mas embora ela me ligue em momentos bons e ruins para compartilhar sua vivência e seus pensamentos, ainda não tinha caído minha ficha que ela não queria necessariamente saber a meu respeito. Então quando comecei a contar de meus dias, ela continuou falando sobre seus próprios feitos como se as perguntas iniciais não me tivessem realmente sido direcionadas a mim: "Como vai você?". E rapidamente após despejar em mim o resumo de suas últimas semanas, ela se despediu e foi continuar sua rotina enquanto eu ainda assimilava tudo sem concluir minhas próprias vivências para ela. Foi como se uma ventania tivesse surgido do nada, durado apenas alguns segundos e desaparecido da mesma forma que chegou, me deixando descabelada e sem referências da direção que eu estava seguindo antes de continuar.
No começo me senti chateada por mim e uma imensa bronca por essa atitude de ser tão"sem noção" que ela costuma ter comigo. Mas depois pensei: "Por que estou brava com algo que sei que não vai mudar? É a natureza dela essa necessidade em falar para suprir uma carência e ficar feliz em ter alguém com quem dividir suas coisas". Ela é assim, ponto. E com certeza não é só comigo. Não devo levar para o lado pessoal, nem me sentir usada por isso. Ainda que ela esteja inconscientemente me "usando" para uma satisfação pessoal momentânea, não está fazendo na maldade. Algumas pessoas agem por maldade, mas essa amiga especificamente sei que não é o caso.
O fato é que talvez a prioridade de algumas pessoas não seja ouvir o que você tem a dizer e sim ter alguém para ouvi-las. Só não percebemos isso porque em geral também queremos ser um pouco ouvidos. E essa amiga, mesmo sem querer me magoar, acabou me ajudando através da percepção gerada pela decepção a compreender que também já agi assim com os outros. Provavelmente perdi algumas amizades porque não havia percebido eu própria "falava demais" quando outros também queriam minha atenção de ouvinte. Hoje essa amiga é o que eu fui para minhas antigas amizades.
Me entristece as perdas passadas, mas fico feliz de finalmente compreender um novo sentido sobre "sentir-se importante" mesmo não fazendo de fato parte da vida de alguém. Cada um dá aquilo que pode, agradece pelo aprendizado e segue em frente. O que fica é reflexo do ego de cada um.
Por: FlaGlvn.